O termo que entrou no hype após anúncio do Facebook não é tão recente quanto se pensa
"Eu amo esta cidade. A cidade das oportunidades infinitas. As lendas nascem aqui”. Cyberpunk 2077
Nos últimos dias, Mark Zuckerberg, co-fundador do Facebook, anunciou que a empresa estava mudando de nome, agora rebatizada como Meta.
O novo nome da empresa é uma referência ao metaverso e marca o início de um novo posicionamento da organização no mundo digital.
Mas, afinal, o que é metaverso? Para entendermos as raízes desse conceito, é necessário voltarmos um pouco no tempo e revisitarmos a cultura underground dos anos 80.
Continue comigo!
O que é cyberpunk?
Cyberpunk é um subgênero literário da ficção científica que surgiu na década de 1980 e se baseia no binômio “high tech/low life” (alta tecnologia/baixa qualidade de vida). Isso significa que estamos falando de um estilo literário distópico, ou seja, que aposta em um futurismo pessimista.
Sujeira, criminalidade, poluição, tecnologia da informação e cibernética se misturam de maneira inconfundível na literatura cyberpunk.
Filmes como as trilogias Matrix, lançada entre o final dos anos 90 e a primeira década do século XXI, e Mad Max, além do clássico distópico Blade Runner, são obras cinematográficas herdeiras da estética e das ideias cyberpunk.
O metaverso na literatura cyberpunk
“Então Hiro não está aqui. Ele está em um universo gerado por computador que seu computador está puxando para dentro de seus óculos e bombeando em seus fones de ouvido. No jargão, esse lugar imaginário é conhecido como Metaverso. Hiro passa muito tempo no metaverso”. Snow Crash
O termo “metaverso” foi utilizado pela primeira vez no romance Snow Crash, escrito entre 1988 e 1991 por Neal Stephenson e lançado em 1992, já no final da onda cyberpunk.
Stephenson ficou conhecido por explorar temas como matemática, criptologia, linguística, filosofia, moeda, cientologia, antropologia e história da ciência em seus romances distópicos de ficção científica e especulativa.
Em Snow Crash, temos uma narrativa de estrutura caótica, contendo referências a assuntos até então pouco explorados pelos autores cyberpunk que antecederam Stephenson.
No romance, o protagonista Hiro é um hacker e entregador de pizza (similar a Thomas Anderson, de Matrix, que trabalha em uma empresa de tecnologia, mas também é o hacker Neo) que passa boa parte de sua vida no metaverso.
Mas afinal, o que é metaverso?
Em linhas gerais, metaverso é uma forma de realidade virtual, um lugar em que o físico e o digital se cruzam e se confundem.
O escritor Antonin Artaud foi o primeiro a utilizar o termo “realidade virtual” em um de seus romances (novamente a literatura), lançado em 1938, chamado “Le théâtre et son double”, onde “a ilusão de personagens criava uma realidade virtual”.
Não muito tempo depois, surgiram os monóculos que projetavam imagens de cidades turísticas famosas, como Paris e Roma, o que nós podemos chamar de avô dos efeitos 3D.
No campo da tecnologia da informação, o responsável pela inserção do termo “realidade virtual” foi o músico, escritor, filósofo e cientista da computação Jaron Lanier (recomendo a leitura de seu livro “You are not a Gadget”), fundador da VPL Research Inc.
Lanier empregou o termo para diferenciar as simulações tradicionais realizadas por computadores das simulações envolvendo múltiplos usuários em um ambiente compartilhado.
Nesse sentido, o metaverso passa a ser possível enquanto uma experiência social, bastante parecida com a ideia das redes sociais. Os óculos 3D são, talvez, o equipamento tecnológico que mais nos aproxima do metaverso.
Jogos como Second Life, que trabalhavam com o conceito de avatar (ver próximo tópico) surgiram no final dos anos 90 como uma promessa de experiência social virtual, mas o surgimento de redes sociais como Orkut, Facebook e Myspace, aliado à precária tecnologia imersiva da época, acabaram contribuindo com o encerramento precoce desse tipo de projeto.
O metaverso no mundo real
Mas afinal, de que forma o conceito de metaverso impacta a forma como lidamos com o mundo digital hoje?
Conforme eu disse no tópico anterior, a até então baixa qualidade da tecnologia imersiva disponível nos anos 90 adiou um pouco o avanço do metaverso.
Hoje, porém, é perfeitamente possível aplicar o conceito na prática, e o anúncio da criação da empresa Meta, que substitui os serviços do Facebook, prometendo fazer isso de forma integrada, é uma prova disso.
Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais da empresa de Mark Zuckerberg, afirmou que realiza reuniões todas às segundas-feiras com sua equipe dentro do metaverso, o que significa que tais reuniões são realizadas em ambiente digital.
Clegg afirma que o metaverso é uma série de mundos interligados, onde o usuário muda do Facebook para a Apple, e para o Google, e para uma editora de jogos etc.
Somente em 2021 o Facebook criou 10.000 empregos na União Europeia com a finalidade exclusiva de implementar um plano de crescimento que tem como foco principal a construção de um metaverso.
A interação dos seres humanos dentro do metaverso se dá através dos chamados avatares (avatar significa descida em sânscrito e é um termo do hinduísmo que remete aos gurus, espíritos que encarnam em um ser humano a fim de torná-lo um guia espiritual), que são representações gráficas de um usuário, personagem ou persona.
O interesse das big techs no metaverso tem raízes no desenvolvimento tecnológico, mas também nos aspectos comerciais. Esse mercado, ainda pouco explorado, tende a ser a nova mina de ouro das grandes corporações globais.
A Nike, por exemplo, comprou uma companhia de itens virtuais colecionáveis e pretende lançar um tênis virtual, que poderá ser adquirido pelos usuários que desejam deixar seu avatar mais estiloso.
Em suma, o metaverso é uma tendência que veio para ser o próximo passo das redes sociais e das mídias digitais. É uma interação entre o mundo físico e o mundo digital, entre o real e o virtual, e se você pretende atuar como desenvolvedor, precisa estudar a fundo esse tema.
Um abraço!
Davi Valukas - Alpha EdTech
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