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Home Office: Suas Improváveis Origens na Revolução Comercial

Introdução: Contextualização sobre o Atual Cenário de Home Office


Nos dias atuais, o mundo do trabalho passa por transformações significativas, especialmente no que diz respeito às formas tradicionais de emprego e local de trabalho. O advento da tecnologia, aliado a eventos globais que redefiniram as dinâmicas profissionais, resultou em uma ascensão notável do trabalho remoto. A digitalização, a conectividade global e a busca por maior flexibilidade por parte dos profissionais modernos têm levado empresas a adotar o modelo de home office de maneira crescente.


A pandemia de COVID-19, em particular, agiu como um catalisador, acelerando a aceitação e implementação massiva do trabalho remoto. Organizações viram-se obrigadas a repensar suas estratégias e adotar medidas que permitissem a continuidade das operações mesmo em condições adversas. Nesse contexto, o home office emergiu como uma solução viável e eficiente para manter as atividades empresariais, mantendo ao mesmo tempo a segurança e o bem-estar dos colaboradores.


Dentro dessa evolução do trabalho remoto, uma análise mais profunda revela que as origens dessa prática remontam a períodos históricos inesperados. A tese a ser explorada neste artigo propõe uma conexão surpreendente entre o home office contemporâneo e o sistema doméstico da Revolução Comercial nos séculos XV e XVI.


Home Office

Ao considerarmos o atual trabalho remoto como uma adaptação moderna do home office, é intrigante explorar como práticas semelhantes já eram observadas em um contexto completamente diferente. A Revolução Comercial, marcada pelo surgimento do comércio global e por transformações econômicas disruptivas em pleno crepúsculo medieval, apresenta um cenário em que artífices realizavam suas atividades produtivas em suas próprias casas, criando produtos que eram posteriormente comercializados com os capitalistas da época (lembrando que a Revolução Industrial ocorreria mais de 200 anos depois).


Ao desvendar essa conexão histórica, podemos compreender melhor a resiliência e a adaptabilidade inerentes ao conceito de trabalho remoto, que, de certa forma, ressurge de suas próprias raízes em um passado distante. Essa associação não apenas enriquece a compreensão do presente, mas também lança luz sobre a evolução constante das práticas de trabalho ao longo dos séculos.


Destruição Criativa de Joseph Schumpeter: Uma Ponte Entre o Passado e o Presente do Trabalho Remoto


Ao explorarmos as origens do home office na Revolução Comercial, é essencial considerar a teoria da "destruição criativa" proposta pelo economista Joseph Schumpeter. Schumpeter introduziu esse conceito para descrever o processo dinâmico pelo qual inovações e transformações disruptivas geram novas formas de produção, ao mesmo tempo em que tornam obsoletas as antigas.


Na ótica de Schumpeter, a Revolução Comercial pode ser interpretada como um exemplo pioneiro desse fenômeno. O sistema doméstico, com seus artífices trabalhando em suas próprias residências, e não mais nas oficinas das corporações medievais, fortemente estratificadas na figura do mestre de ofício, representa uma forma antiga de produção que, eventualmente, cedeu lugar a modelos mais eficientes e centralizados durante a Revolução Industrial, uma espécie de retorno ao formato das corporações, mas em grande escala.


Ao traçar um paralelo com o trabalho remoto contemporâneo, percebemos que a destruição criativa não é um fenômeno exclusivo do passado. O modelo tradicional de trabalho em escritórios e fábricas enfrenta desafios semelhantes àqueles enfrentados pelo sistema doméstico na transição para a Revolução Industrial. A ascensão do home office, impulsionada por avanços tecnológicos, representa uma manifestação moderna da destruição criativa, desafiando as normas estabelecidas e inaugurando uma nova era no mundo profissional.


Assim, a tese central deste artigo não apenas busca conectar as origens remotas do home office na Revolução Comercial, mas também destaca como o conceito de destruição criativa, formulado por Schumpeter, permanece relevante na compreensão das transformações contemporâneas no ambiente de trabalho. A reinvenção constante, característica da destruição criativa, é evidente tanto nos eventos históricos quanto na atual revolução do trabalho remoto, solidificando a ideia de que a adaptação e a inovação são fatores intrínsecos à evolução do modo como trabalhamos.


A Revolução Comercial e o Sistema Doméstico


Durante os séculos XV e XVI, um notável sistema produtivo emergiu nas entranhas da Revolução Comercial, marcando uma fase crucial na transição do feudalismo para o capitalismo, tendo o mercantilismo como ponte. Esse sistema, conhecido como "sistema doméstico," redefiniu a dinâmica da produção industrial ao descentralizar as atividades econômicas para as residências dos artífices.


Descrição dos Artífices Envolvidos: Tecelões, Oleiros e Outros Prestadores de Serviços


Os protagonistas desse cenário eram os artífices engajados em diversas atividades, desde a tecelagem até a produção de cerâmica. Tecelões, oleiros, ourives, e outros prestadores de serviços compunham a rica tapeçaria dessa classe laboral. Cada artífice, mestre em sua arte específica, contribuía para a diversidade e a qualidade dos produtos gerados nesse sistema.


Produção nas Próprias Casas e Revenda aos Capitalistas da Época


O traço distintivo do sistema residia na natureza descentralizada da produção. Ao invés de operar em fábricas centralizadas, ou nas oficinas das corporações de ofício medievais, os artífices realizavam suas atividades nas próprias casas. Os tecelões, por exemplo, teciam suas tapeçarias nas salas de estar, enquanto oleiros moldavam cerâmica em seus próprios ateliês caseiros. Esse arranjo permitia uma produção mais flexível, adaptada aos ritmos individuais e ao espaço disponível em cada residência.


Home Office

A relação entre os artífices e os capitalistas que emergiam da burguesia recém-formada era essencial para o funcionamento do sistema. Os produtos confeccionados nas casas dos artífices eram revendidos aos capitalistas da época. Estes, por sua vez, desempenhavam o papel de intermediários, adquirindo as mercadorias produzidas de maneira descentralizada e canalizando-as para os mercados locais e internacionais.


Ênfase na Exportação da Produção pelos Capitalistas


Um elemento crucial que define a complexidade desse sistema era a exportação da produção. Os capitalistas, ávidos por ampliar seus negócios e conquistar mercados além das fronteiras locais, desempenhavam um papel vital na expansão comercial. Eles adquiriam os produtos dos artífices e os exportavam, contribuindo para o comércio global emergente da época. Essa prática não apenas impulsionou o crescimento econômico, mas também estabeleceu as bases para uma forma incipiente de trabalho remoto, ao descentralizar a produção para os lares dos artífices.


Cabe salientar que durante o medievo, o lucro era condenado, o que impossibilitava o surgimento de uma classe capitalista, até que a Revolução Comercial, propiciada pelas navegações e o consequente contato com povos de fora da Europa, derrubou esse paradigma.


Em resumo, o sistema doméstico dos séculos XV e XVI não apenas moldou as práticas produtivas da época, mas também, de maneira surpreendente, lançou as sementes de uma forma ancestral de trabalho remoto, conectando-se, assim, à contemporaneidade do home office.


Paralelos com o Trabalho Remoto Moderno


Ao analisarmos o sistema doméstico dos séculos XV e XVI, é fascinante perceber as marcantes semelhanças que ele compartilha com o trabalho remoto contemporâneo. Essa conexão transcende o tempo, destacando aspectos fundamentais que permanecem pertinentes nas práticas laborais ao longo dos séculos.


Autonomia e Independência na Execução das Tarefas


Uma das convergências notáveis entre o sistema doméstico e o trabalho remoto contemporâneo é a ênfase na autonomia e independência na execução das tarefas. Nos séculos XV e XVI, os artífices tinham a liberdade de conduzir suas atividades nas próprias casas, moldando seu ambiente de trabalho de acordo com suas necessidades individuais. Essa autonomia permitia que cada artífice estabelecesse seus próprios horários, ritmos de trabalho e métodos de produção.


De maneira análoga, o trabalho remoto moderno proporciona aos profissionais uma liberdade similar. A capacidade de realizar tarefas a partir de casa ou de locais remotos oferece uma autonomia significativa. Os trabalhadores contemporâneos têm a flexibilidade de organizar seus dias de acordo com suas preferências, otimizando seu ambiente de trabalho para maximizar a produtividade. Essa autonomia não apenas reflete a evolução das práticas laborais, mas também ressalta a continuidade de um desejo humano fundamental por liberdade na execução de suas responsabilidades profissionais.


Aqui, cabe fazer um parêntesis: antes da Revolução Industrial, apenas monges possuíam uma rotina rígida de horários. Tanto no feudalismo quanto no mercantilismo que antecedeu a emergência do capitalismo, era comum que os trabalhadores tivessem horários flexíveis de trabalho.




Conectando o Passado ao Presente


Explorando essas semelhanças, é possível estabelecer uma ponte entre o sistema doméstico do passado e o trabalho remoto contemporâneo. Ambos compartilham o DNA da autonomia e da descentralização, permitindo que os trabalhadores exerçam um controle significativo sobre o modo como conduzem suas atividades laborais. Essa continuidade ao longo dos séculos ressalta não apenas as adaptações nas práticas de trabalho, mas também a persistência de valores relacionados à independência na execução das tarefas.


Assim, a compreensão dessas semelhanças não apenas enriquece a análise histórica, mas também oferece insights valiosos sobre as aspirações humanas atemporais em relação ao trabalho e à liberdade profissional. Essa ligação entre passado e presente destaca a resiliência e a adaptabilidade inerentes à natureza humana, manifestando-se tanto nas eras antigas quanto na era digital contemporânea.


É isso!


Davi Valukas - Alpha EdTech


1 comentario


Paulo Marcotti
Paulo Marcotti
01 feb

Interessante a visão deste "expande" e "contrai" .. também podemos ver isso na computação: um primeiro momento os computadores mainframes centralizados e enormes só disponíveis para as grandes (enormes) corporações, depois 1992 veio a descentralização com os servidores mais baratos e acessíveis para médias e pequenas corporações (o esquema client-sever) ... agora voltamos à centralização nos datacenters e com a nuvem ... mas já estamos caminhando para o "fog" um processamento no IoT e não apenas na nuvem ... muito interessante ...😍 ... Paulo Marcotti

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